Senhor
prefeito, Senhores vereadores, demais políticos e pessoas aqui presentes.
Viemos
lhes trazer uma mensagem.
Pode
não parecer aos olhos de alguns, mas de fato nossa causa é das mais nobres. O
que queremos acima de tudo é um mundo justo, tão justo quanto for possível.
Queremos um mundo melhor, com muito mais paz e alegria para todos. Sabemos como
conseguir isso, e viemos dizer para todos que estão aqui. Queremos acabar com o
tráfico de drogas, esta guerra urbana sem sentido que começou por volta da década
de 20 do século passado. Uma guerra absurda, pelos motivos errados, que já
custou vidas demais e irá custar muitas outras se o
erro não for desfeito.
Sim,
viemos falar da proibição da maconha. GOSTARÍAMOS DE RESSALTAR, PORÉM, que nem
todos aqui fumam maconha! Alguns já fumaram e não fumam mais, outros
simplesmente sabem que a proibição é a coisa errada a se fazer, certamente por
terem se informado bem sobre o assunto. Ressalte-se também que, para cada
pessoa que veio aqui hoje, é plenamente plausível supor que várias outras não
vieram, por medo do preconceito e da repressão que podem vir a sofrer.
De
qualquer forma, vamos começar contando alguns fatos históricos que pouca gente
sabe.
Como
sabemos que os Senhores não estão inclinados a acreditar em nós, inicialmente
citaremos apenas o início de uma reportagem da revista Super Interessante,
edição 179, da editora Abril, a mesmíssima editora da
revista veja.
Abre
aspas:
"Por que a maconha é proibida? Porque faz mal à saúde. Será mesmo? Então, por que o bacon
não é proibido? Ou as anfetaminas? E, diga-se de passagem, nenhum mal sério à
saúde foi comprovado para o uso esporádico de maconha.
A
guerra contra essa planta foi motivada muito mais por fatores raciais, econômicos, políticos e morais
do que por argumentos científicos. E algumas dessas razões são inconfessáveis.
Tem a ver com o preconceito contra árabes, chineses, mexicanos e negros,
usuários freqüentes de maconha no começo do século XX. Deve muito aos
interesses de indústrias poderosas dos anos 20, que vendiam tecidos sintéticos
e papel e queriam se livrar de um concorrente, o cânhamo (que dá origem à maconha). Tem raízes também na bem-sucedida
estratégia de dominação dos Estados Unidos sobre o planeta. E, é claro, guarda
relação com o moralismo judaico-cristão (e principalmente
protestante-puritano), que não aceita a idéia do prazer sem merecimento – pelo
mesmo motivo, no passado, condenou-se a masturbação.
Não
é fácil falar desse assunto (...). O tema é tão carregado de ideologia e as
pessoas têm convicções tão profundas sobre ele que qualquer convite ao debate,
qualquer insinuação de que estamos lidando mal com o problema já é interpretada
como "apologia às drogas" e, portanto, punível com cadeia. O fato é
que, apesar da desinformação dominante, sabe-se muito sobre a maconha. Ela é cultivada há milênios e centenas de pesquisas já foram feitas
sobre o assunto."
Fecha
aspas.
Esta
reportagem, diga-se de passagem, é um dos textos mais lúcidos já escritos na
mídia brasileira sobre o assunto, e deveria ser leitura obrigatória para todas
as pessoas. Ficamos tentados a transcrever mais partes aqui, porém seremos mais
breves para não cansar a todos que nos escutam.
Senhores, gostaríamos também de citar trechos de notícias que
atestam alguns dos benefícios da maconha, comprovados
por estudos sérios de instituições respeitadas, além de outros fatos
registrados historicamente:
-
Notícia publicada no site do Ministério da Saúde do Governo Federal: “A maconha
pode ser um ótimo medicamento para aliviar os efeitos da esclerose múltipla.”
- Notícia da Agência Reuters publicada em outubro de 2006: Pesquisadores do Instituto Scripps de Pesquisa, na Califórnia, concluíram que o componente ativo da maconha, chamado delta-9-tetra-hidrocanabinol (THC), é mais eficaz no combate ao mal de Alzheimer do que medicamentos vendidos regularmente.
-
Notícia publicada no site do Terra em 27/06/2003:
Pesquisadores da Universidade da Califórnia
-
Notícia publicada no site da BBC Brasil: A substância química ativa da maconha
pode ajudar a impedir que o câncer se espalhe, segundo pesquisa realizada pela
Universidade do Sul da Flórida.
-
Notícia publicada no site G1 (site de notícias da Globo):
“Um composto encontrado na maconha pode ajudar a evitar que o câncer de mama
acabe se espalhando pelo corpo -- a famosa metástase. A conclusão é de cientistas
do Instituto de Pesquisa do Centro Médico do Pacífico, na Califórnia (Estados
Unidos).”
-
De acordo com o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, que funciona no Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo, ABRE
ASPAS:
"graças à pesquisas recentes, a maconha é reconhecida como
medicamento em pelo menos duas condições clínicas: reduz ou abole as náuseas e
vômitos produzidos por medicamentos anti-câncer e tem
efeito benéfico em alguns casos de epilepsia (doença que se caracteriza por
convulsões)". FECHA ASPAS.
- Notícia publicada na revista Veja: ABRE ASPAS: “Sabe-se que, em certos casos, a maconha tem efeitos analgésicos e abre o apetite, promovendo a recuperação de peso em doentes terminais de Aids e câncer. Ela é eficaz ainda no combate ao enjôo e ao vômito, sintomas que aparecem em praticamente todo tipo de tratamento quimioterápico. Também reduz o enrijecimento muscular dos portadores de esclerose múltipla e há casos registrados de melhora em pacientes epiléticos.” FECHA ASPAS
- Fato histórico comprovado pelas estatísticas oficiais: a legalização da maconha na Holanda não causou o aumento do seu uso, e causou um efeito inesperado: a redução do número de usuários de drogas pesadas, como a heroína.
Por
fim, somos obrigados a tomar um pouco mais de tempo dos senhores e ler aqui uma
entrevista publicada em outubro de 2007 no jornal O GLOBO com o cientista Renato Malcher-Lopes,
do Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia da Embrapa:
Com relação ao suposto VÍCIO da
maconha:
Abre
aspas:
"Não é verdade que a maconha vicie mais
que álcool ou nicotina. Demonstrar cientificamente que a maconha causa vício
não é simples. O modelo experimental usado para esta finalidade indica que
animais não adquirem facilmente o hábito de se auto-inocular com THC, o mais
importante princípio ativo da maconha. Ao contrário do THC, a nicotina e o
álcool são altamente reforçadores do comportamento de auto-administração. O uso
freqüente ou crônico da maconha é normalmente bem mais raro do que seu uso
ocasional ou moderado. Em geral, mesmo os usuários crônicos enfrentam poucos
problemas para abandonar a maconha, quando desejam. O desenvolvimento de
tolerância aos efeitos da maconha tende a desestimular o seu uso crônico. Isso
não significa que ela não possa causar dependência psicológica, mas creio isto
está mais associado às idiossincrasias de cada um do que às características
farmacológicas da droga usada".
Fecha
aspas.
Com relação aos efeitos no
cérebro
Abre
aspas:
"Não há evidências de que os componentes
da maconha matem neurônios. Ao contrário, alguns canabinóides
da planta protegem os neurônios contra radicais livres. A maconha desvia a
atenção do indivíduo favorecendo a introspecção reflexiva ou a concentração num
aspecto do ambiente, o que em geral ocorre em detrimento da capacidade de se
prestar atenção de forma distribuída. Enquanto dura seu efeito, a maconha reduz
muito a capacidade de se armazenar memórias temporárias,
a ponto de dificultar a conclusão de frases ou linhas de raciocínio mais
longas. Isto é transitório e não afeta a estabilidade ou a recapitulação de
memórias previamente consolidadas".
Fecha
aspas
Com relação à DEPENDÊNCIA
Abre
aspas
"Diferentemente de cocaína, heroína e
álcool, a maconha não causa dependência fisiológica. Os circuitos neuronais envolvidos na regulação do equilíbrio fisiológico
se adaptam à presença constante dessas drogas de forma diferenciada. Heroína e
cocaína ajustam a fisiologia de tal forma que com a
interrupção do uso as ações que dependem da regulação exercida pelo sistema
nervoso entram em colapso, causando síndrome de abstinência grave e
duradoura".
Fecha
aspas
Com relação à ABSTINÊNCIA e
EFEITOS NO ORGANISMO
Abre
aspas
"A síndrome de abstinência da maconha em
humanos é amena e dura poucos dias, sendo caracterizada, sobretudo, por
irritabilidade e diminuição do apetite. De maneira geral, a maconha é menos
nociva do que o álcool, o tabaco, a cocaína e a heroína. Isto continuaria sendo
verdade mesmo que as outras drogas não causassem dependência fisiológica. Nos
casos específicos da cocaína e da heroína, o maior agravante é a tolerância que
essas drogas causam, isso faz com que os usuários
precisem de doses cada vez maiores para obter os efeitos desejados. A overdose
do álcool raramente mata, mas pode levar ao coma. Maconha produz tolerância,
mas não leva ao coma ou à morte por overdose".
Fecha
aspas
Com relação à DESCRIMINAÇÃO
Abre
aspas
"Quem
assiste ao filme 'Tropa de elite' tem um retrato realista da brutalidade
associada ao combate às drogas feito pelo Estado no Brasil. Devemos questionar
porque, afinal, tanta morte e desgraça em ambos os lados devem ocorrer à custa
de nossos impostos para que se tente impedir, em vão, que a maconha chegue às
mãos de cidadãos adultos. O álcool pode ser muito mais prejudicial à saúde e à
sociedade do que a maconha. Ainda assim, lidamos no Brasil com os riscos que o
uso abusivo do álcool representa, inclusive para
crianças e adolescentes, sem derramar rios de sangue. Na Holanda, um jovem
epiléptico ou uma senhora com câncer vão à farmácia comprar maconha medicinal e
não são perturbados por policial ou bandido. A realidade encoraja a discussão
acerca da regulamentação do uso da maconha com regras semelhantes àquelas
aplicadas ao álcool, restringindo a venda a lojas credenciadas e proibindo a
menores. Esta medidas afastariam usuários de maconha do submundo
criminoso".
Fecha
aspas.
Senhor
prefeito e senhores vereadores, como podemos concluir a partir destas
informações e várias outras não citadas aqui, maconha NÃO é algo pior do que
álcool ou tabaco, pelo contrário. Senhores, nós ESTAMOS CANSADOS de tantas mentiras, estamos cansados de tanta
hipocrisia. E os usuários de maconha estão cansados de serem jogados na
clandestinidade, estão cansados de serem tratados como cidadãos de 2ª
categoria, eles estão cansados de serem apontados como criminosos por uma
sociedade que ignora a verdade sobre este assunto.
Quem
fuma maconha não faz nenhum mal direto a ninguém. Faz, sim, um mal indireto, ao
dar dinheiro para traficantes. O tráfico, porém, só existe porque existe a
proibição. Uma boa prova disso é o fato de ter existido nos Estados Unidos
gangues armadas que traficavam bebidas alcóolicas na época da lei seca. Al Capone foi o maior exemplo.
Senhor
prefeito, a pouco mais de um mês atrás ocorreu um
episódio lamentável dentro do campus da UFMG. Neste dia, estava sendo exibido o
documentário “Grass”, que conta como e por que a
maconha foi proibida, inicialmente nos Estados Unidos e depois no restante no
mundo, devido obviamente à influência americana.
Senhores,
o filme apenas cita os mesmos fatos contados por exemplo
pela já citada revista Super Interessante, ele NÃO FAZ APOLOGIA à maconha, NÃO DIZ para ninguém fumar maconha. O
filme cita fatos históricos que ninguém questiona, e fatos históricos não podem
ser censurados no Brasil, em pleno século 21! Este documentário tem muito
mérito, ao mostrar tais fatos históricos altamente relevantes, e deveria, isso sim, ser exibido em todas as escolas, tendo em
vista o valor das informações ali contidas. Lamentavelmente, por algum motivo a
polícia militar, certamente com boas intenções mas com
a atitude errada, interviu na exibição do filme e um
estudante acabou sendo preso.
Senhores,
nossas prisões estão lotadas de pessoas que não deveriam estar lá. Bilhões de
reais são gastos para se manter este aparato de repressão a uma planta cujos
malefícios ao organismo são praticamente nulos. Se a ciência atesta que os
malefícios da maconha são mínimos, qual é o sentido em proibí-la
e prender quem a fuma? Se as pessoas a fumam à milhares
de anos sem fazer mal a ninguém, e se apesar da proibição atual as pessoas
ainda querem fumá-la, por que não permitir que elas comprem esta planta de
forma legal, assim como é feito na
Holanda, por exemplo? Isto economizaria uma fortuna aos cofres públicos,
permitiria ao governo se preocupar com assuntos mais relevantes como nossa
educação pública ruim e a falta de saneamento para todos, entre outros. E, mais
do que isso, a legalização da maconha ACABARIA
COM O SEU TRÁFICO, da mesma forma que o fim da Lei Seca e a conseqüente legalização
do álcool acabou com o tráfico de bebidas nos Estados
Unidos.
Abram os olhos. Percebam que esta proibição não faz sentido, não resolve problema algum. Ao contrário, cria vários outros problemas. O tráfico, a violência, as mortes. As prisões lotadas, o gasto do estado para manter este aparato para reprimir algo que não precisa ser reprimido.
ACORDEM. AJUDE-NOS. AJUDE-NOS A SALVAR VIDAS.
A JUSTIÇA NÃO ESTÁ SENDO FEITA. A MAIORIA DAS PESSOAS NÃO SABE A VERDADE SOBRE O QUE É A MACONHA E O QUE ELA CAUSA AO ORGANISMO, E NÃO SABEM POR QUE ELA FOI PROIBIDA. PRECISAMOS MOSTRAR A VERDADE ÀS PESSOAS, SEM DOGMAS, SEM CRENÇAS INFUNDADAS, SEM HIPOCRISIA, APENAS A VERDADE.
E
PRECISAMOS ACABAR COM ESTA LEI ABSURDA QUE LOTA NOSSAS PRISÕES, CRIOU O TRÁFICO
DE DROGAS E TODOS OS PROBLEMAS DECORRENTES DESTA VERDADEIRA GUERRA URBANA.
NÃO HÁ SENTIDO
Contamos
com o bom-senso e imploramos ajuda a
todos vocês.
BUSQUEM A VERDADE E AJUDEM-NOS A DIVULGÁ-LA. ISSO IRÁ SALVAR VIDAS.
Muito obrigado.